A modernização administrativa e governação eletrónica (*)



Por Luís Barbosa Vicente


Retomo este projeto de Modernização Administrativa e Governação Eletrónica que sugeri ao governo da Guiné-Bissau em 2014, que segundo me parece estar em fase de arranque, conforme se constata através da criação do portal[1] na internet.

No entanto, defender um plano de modernização administrativa e governação eletrónica da Guiné-Bissau, significa apostar num projeto de grande dimensão capaz de tornar mais eficiente e eficaz a máquina administrativa ao serviço do cidadão.

Este é um dos desafios que a Guiné-Bissau deve apostar, mas, obviamente, deve também salvaguardar a sua execução e os princípios fundamentais da vontade política, potencial económico, integração nacional e dinamismo social, bem como a ação estratégica necessária para colocar o país no médio prazo com capacitação institucional dos seus altos quadros políticos e técnicos ao melhor nível internacional nestes domínios, bem como corrigir o atual posicionamento débil a nível internacional nos domínios da modernização administrativa e do governo eletrónico.

Na verdade, países que almejam o progresso e o desenvolvimento, torna importante e essencial o investimento em Capital Humano e a Capacitação Institucional, bem como o Desenvolvimento Tecnológico de modo a garantir a diminuição da pobreza e a valorização do capital social existente; o desenvolvimento económico e social sustentável, crescimento e o emprego; o desenvolvimento territorial equilibrado das suas Regiões e Comunidades Locais; o desenvolvimento e modernização das infraestruturas tecnológicas e de comunicação; a necessária cooperação e financiamento internacional.

A implementação de um PROGRAMA DE MODERNIZAÇÃO ADMINISTRATIVA E GOVERNO ELECTRÓNICO deve passar pela definição de eixos estratégicos, nomeadamente: Cidadão, Estado e Empresas. Existe naturalmente uma natureza transversal e complementar dos três Eixos Estratégicos com a dinamização de projetos e atividades de valor acrescentado no relacionamento com os Cidadãos e Empresas e a Modernização do Estado.

Apresenta-se de seguida uma breve súmula dos três Eixos Estratégicos complementares do PROGRAMA DE MODERNIZAÇÃO ADMINISTRATIVA E GOVERNO ELECTRÓNICO, com as respetivas Medidas e correspondentes Projetos de Ação.

I – Cidadãos – Democracia e Capital Humano

Uma dimensão fundamental da modernização administrativa do Estado e do Governo eletrónico está relacionada com formas mais eficazes e fáceis de relacionamento com os Cidadãos. A desburocratização da interação com os cidadãos e o acesso dos Cidadãos à informação e serviços do Estado constitui uma prioridade estratégica deste Eixo do Programa MADE-GOV@GUINÉ.

Podem ser implementadas as seguintes Medidas no âmbito deste Eixo Estratégico:

·        Capacitação e Capital Humano;
·        Acesso e Inclusão Digital (incluindo acessibilidade para deficientes);
·        Portal do Cidadão: Conteúdos e Serviços aos Cidadãos;
·        Educação e Ciência (Computador na Escola);
·        Serviços de Saúde ao Cidadão;
·        Segurança e Assistência Social;
·        Rede integrada de “Casas do Povo”;
·        Serviços integrados deslocalizados aos Cidadãos.

II – Estado - Modernização e Governação

Um Estado moderno deve conseguir gerir de forma eficaz e eficiente os recursos (humanos, financeiros e materiais) extremamente escassos, conseguindo otimizar estes recursos em prol das grandes finalidades do Programa de Governo, orientadas para a informação e serviços aos Cidadãos e Empresas.
A modernização de infraestruturas, a utilização abrangente e integrada de Tecnologias da Informação e Comunicação no Estado e a desmaterialização de processos constituem prioridades estratégicas deste Eixo da Modernização Administrativa do Estado.

As medidas que devem ser implementadas no âmbito deste Eixo Estratégico:

·  Domínio Internet da Guiné Bissau (.GW) e Domínio integrado da Administração e Governação Eletrónica (.GOV.GW);
·  Infraestruturas de Comunicações;
· Segurança do Estado e Governação;
· Rede Integrada de Comunicações da Administração Pública;
·  Portal Integrado dos Serviços da Administração Pública, Cidadãos e Empresas;
· Sistema Integrado de Serviços do Estado e Desmaterialização Eletrónica.

III – Empresas – Competitividade e Crescimento

A promoção do crescimento económico e competitividade das empresas, alavancando os sectores estratégicos da Guiné-Bissau, constituem uma inevitabilidade incontornável no desenvolvimento social sustentável da Guiné-Bissau.

O reforço das medidas de apoio ao investimento internacional na Guiné Bissau, a dinamização dos sectores com potencial de exportação, bem como a melhoria da especialização e competitividade nas empresas são a prioridade deste Eixo Estratégico do Programa MADE-GOV@GUINÉ.

As seguintes medidas que devem ser implementadas no âmbito deste Eixo Estratégico:

·        Formação de Base Tecnológica nas Empresas;
·        Apoio ao Investimento Internacional de base tecnológica;
·        Serviços Financeiros, Contabilísticos e Fiscais Desmaterializados;
·        Portal da Empresa: Conteúdos e Serviços às Empresas;
·        Apoio às Exportações Tecnológicas;
·        Promoção da Competitividade e Emprego de base tecnológica;
·        Rede de Parques Tecnológicos e Empresariais.


1.    Avaliação, monitorização e impacto do programa


A Avaliação, monitorização e impacto do Programa constituem uma preocupação do Governo, definido à priori o próprio Governo, metas e indicadores concretos a atingir com a implementação do Programa, bem como um exigente sistema de monitorização e avaliação do mesmo Programa, seguindo as melhores práticas internacionais.

Constitui finalidade do Programa causar um impacto significativo na melhoria dos processos de Modernização administrativa e Governo eletrónico. Isto significa, num prazo de 4 anos, colocar a Guiné-Bissau numa posição de “benchmarking” internacional muito melhor do que a atual situação, para a qual a título de exemplo se apresentam alguns indicadores.

Mas significa ainda, essencialmente, estabelecer uma estratégia sustentável de médio e longo prazo (10 anos), que permita à Guiné-Bissau uma política de continuidade neste domínio para as próximas décadas.


2.    Diagnóstico atual


Existe pouca presença na web das instituições públicas, e as que existem estão praticamente ao abandono e sem qualquer linha de orientação conjunta. A utilização da internet abrange apenas 3% da população. O Índice de Desenvolvimento do E-Government na Guiné-Bissau é baixo, colocando-nos mesmo na cauda do ranking apresentado pela ONU, com os seguintes valores:


Posição
País
Índice de Desenvolvimento do E-Government
Componente de Serviços Online
Componente de
Infrastructuras de Telecomunicações
Componente de Capital Humano
182
Guiné-Bissau
0,16
0,0079
0,87
0,38
127
Cabo Verde
0,35
0,16
0,29
0,60
37
Portugal
0,69
0,63
0,60
0,82
1
Rep. Coreia
0,94
0,97
0,93
0,92


O Instrumento seguinte permite a monitorização e Avaliação global da implementação do Programa MADE-GOV@GUINÉ permitindo uma análise sectorial por Eixo do Programa, bem como a evolução ao longo do tempo do conjunto dos 3 Eixos Estratégicos do Programa.

O mesmo sistema permitirá a utilização de instrumentos de Monitorização e Avaliação por cada um dos Eixos do Programa MADE-GOV@GUINÉ (bem como ainda ao nível de Projetos dentro de cada Eixo-estratégico). A título de exemplo, apresenta-se o diagrama de monitorização da implementação do Eixo CIDADÃOS – Democracia e Capital Humano.
  
Naturalmente, o sistema de Avaliação e Monitorização de Impacto global do Programa incluirá os instrumentos para a Avaliação Global do Programa, cada um dos 3 Eixos Estratégicos e ainda cada uma das Medidas e Projetos respetivos.


Março de 2014.


Luís Barbosa Vicente




(*) Consta do livro «GuinéBissau, das contradições politicas aos desafios do futuro» de Luís Barbosa Vicente, Editado pela Chiado Editora (2016).

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